Já havíamos comentado em outro artigo para a publicação Anestesiologia em Revista da Sociedade Brasileira de Anestesiologia sobre alguns conceitos de inovação, robotização e inteligência artificial em anestesiologia.
Recentemente a Anesthesiology publicou uma capa disruptiva no periódico, declarando abertamente que a robotização em anestesiologia é uma realidade próxima. Isso provoca uma grande discussão entre os profissionais da prática assistencial, que fazem emergir movimentos contra e a favor dessa nova realidade de mercado e suas nuances.
Para iluminarmos a questão, vamos apontar aqui alguns conceitos, desmistificar outros e resumir as tecnologias envolvidas com intuito que o assunto tenha mais embasamento técnico e as discussões, mesmo que acaloradas, tornem-se educativas, promovendo uma maturidade da especialidade frente ao tema.
Segundo o artigo de revisão da Anesthesiology, intitulado Artificial Intelligence in Anesthesiology – Current Techniques, Clinical Applications, and Limitations (referência completa no fim do texto), Inteligência Artificial é o estudo de algoritmos que dão as máquinas a capacidade de raciocinar e executar funções como resolução de problemas, reconhecimento de objetos e palavras, inferência de estatísticas mundiais e tomada de decisões.
Da mesma maneira, em uma definição mais tangível, uma definição da Wikipedia de inteligência pode nos ajudar a entender o que está acontecendo. Segundo a plataforma de conhecimento aberto, inteligência é a capacidade de processar informação, e quando essa capacidade é da máquina e não do humano, é uma inteligência não natural, ou seja, artificial.
Portanto, o que mudou com a tecnologia na realidade de todos nós, foi o aumento da capacidade de armazenamento e processamento das máquinas que nos rodeiam.
O objetivo de trazer essa capacidade de análise e de insights para o nosso cotidiano na anestesiologia é promover um cuidado mais seguro, mais eficiente e mais custo-efetivo. Segundo o artigo da Anesthesiology, as áreas identificadas em sua revisão onde a inteligência artificial impactará são:
- Monitoramento da profundidade anestésica;
- Controle do procedimento anestésico;
- Predição de eventos adversos e riscos;
- Guia para bloqueios por US;
- Manejo da dor;
- Logística da sala de cirurgia.
Essas metas serão atingidas com o uso de tecnologias e conceitos que não têm como objetivo substituir o anestesiologista, mas provocar melhorias no fluxo de trabalho do anestesiologista.
Por exemplo, uma das técnicas chamadas de Machine Learning (Aprendizado de Máquina) é quando programas de computador que podem aprender e reagir frente aos inputs dos usuários sem ter uma programação específica solicitando isso. Por exemplo, após estudar casos de hipotensão pós indução anestésica, a máquina passa a predizer com assertividade se um paciente apresentará hipotensão durante a indução baseada naquilo que aprendeu analisando dados passados, sem a solicitação explícita do operador ou uma programação dedicada só para isso.
Prontuários eletrônicos e sistemas de gestão de informação em anestesia (AIMs – Anesthesia Information Management Systems) como o AxReg da Anestech são dois tipos de interfaces que permitirão que sistemas digitais ajudem anestesiolgistas que são chamados diariamente a registrar, analisar e interpretar um volume cada vez maior de dados durante a prática clínica.
Obviamente a Inteligência Artificial possui limitações e riscos. A transparência das informações e até mesmo as informações disponíveis ainda são um grande desafio, pois a interoperacionalidade de informações não é uma prática comum entre os grandes players de prontuário eletrônico, por exemplo.
Por fim, podemos dizer que o futuro é sem dúvida mais inteligente devido as máquinas, mas ousamos prever que também é mais humano, uma vez que com as máquinas fazendo o trabalho que podem fazer melhor e com mais acurácia, os profissionais podem se dedicar às habilidades humanas, como empatia, segurança e resolução de conflitos.
Veja aqui o caminho da inteligência artificial em saúde, onde estamos e para onde vamos.