Artigo publicado originalmente no site da Sociedade de Anestesiologia do Rio Grande do Sul
Desde 2017, o Hospital Tacchini, em Bento Gonçalves, trabalha para eliminar a utilização de papel para documentar o prontuário anestésico dos pacientes. A partir de 1º de outubro, a instituição criou processos digitais voltados a esse tipo de material. Para o Dr. Felipe Rech Borges, coordenador do projeto, a mudança foi fundamental para a equipe e a instituição. “Nós não só estávamos prontos, como aderimos à nova ferramenta imediatamente, transformando o processo de mudança em algo rápido, natural e virando fonte de informações de melhorias para o Hospital Tacchini e adaptações do aplicativo da Anestech”, ressalta. O especialista explica ainda que os registros dos dados são feitos de forma tradicional, com o anestesiologista monitorando minuto a minuto o paciente e anotando na ferramenta os dados. A grande diferença está no armazenamento das informações, que podem ser encontradas na nuvem ou no servidor das instituições (hospitais ou clínicas) e compartilhadas com demais profissionais, sem a possibilidade de alterações desses dados.
“Nós não só estávamos prontos, como aderimos à nova ferramenta imediatamente, transformando o processo de mudança em algo rápido, natural e virando fonte de informações de melhorias para o Hospital Tacchini e adaptações do aplicativo da Anestech”
Dr. Felipe Borges
O processo de implantação do sistema no Hospital Tacchini começou há um ano, quando o Dr. Felipe foi apresentado ao CEO da Anestech Innovation Rising, o anestesiologista Diogenes Silva. “Entrei em contato com a empresa com o objetivo de solucionar uma solicitação do nosso hospital para que fosse eliminado o uso de papel para documentar o prontuário anestésico dos pacientes”, conta. “A partir daí, começou a entrada no mundo digital da Equipe de Anestesiologia de Bento Gonçalves (RS).” O médico explica que, mesmo sendo uma parte importante, o registro anestésico do paciente ainda era feito em formulários de papel. “O registro anestésico é a parte do prontuário do paciente mais completa, com dados fisiológicos e farmacológicos tomados minuto a minuto. Mesmo o nosso centro cirúrgico sendo um dos maiores centros de rendimento e produtividade, o documento em papel dificultava o compartilhamento dos dados. Isso fazia com que os registrados não fossem transformados em conhecimento para melhorar a segurança dos pacientes, a gestão hospitalar e a proteção legal de todos os envolvidos”, afirma.
Enquanto pesquisava empresas que pudessem possibilitar a implantação de um sistema, o Dr. Felipe notou que são raras as plataformas entre os fornecedores que oferecem soluções digitais para clínicas e hospitais. “Pensei: como eu, em pleno século XXI, continuo usando papel, caneta e carbono para compilar informações que têm relação direta com a segurança do paciente e faturamento hospitalar? Será que as próprias fontes pagadoras não combatem essa prática por ser o registro anestésico uma fonte fácil para justificar glosas?”, lembra Dr. Felipe.
"Pensei: como eu, em pleno século XXI, continuo usando papel, caneta e carbono para compilar informações que têm relação direta com a segurança do paciente e faturamento hospitalar? Será que as próprias fontes pagadoras não combatem essa prática por ser o registro anestésico uma fonte fácil para justificar glosas?"
Dr. Felipe Borges
A ferramenta escolhida foi um aplicativo para o armazenamento do momento perioperatório chamado AxReg, da empresa Anestech. “Anestesiologistas na prática estão acostumados a não investir recursos próprios em tecnologia para sua prática assistencial, deixando essa responsabilidade a cargo das instituições hospitalares. Entretanto, são os principais usuários de equipamentos e softwares que entram no centro cirúrgico, tendo portanto uma grande responsabilidade na sua validação e implementação”, afirma Dr. Felipe.
Foi em maio de 2018 que a direção do Hospital Tacchini, juntamente com o time de anestesiologistas, aceitou o desafio de mudar a realidade do armazenamento dos registros anestésicos. Com o apoio do Sr. Hilton Mancio (superintendente), Dra. Roberta Pozza (diretora técnica) e Dra. Christiane Sacchet (gestora de processos), o desafio era a implementação e mudança de cultura do hábito dos profissionais, mesmo sendo óbvio os benefícios. A implantação iniciou em agosto. Para o Dr. Felipe, foi uma batalha com algumas surpresas. “Nesse momento tomei ciência de que os anestesiologistas estão ávidos e carentes dessa mudança, completamente excluídos do contexto digital dos hospitais.” Mas com a utilização da ferramenta, os anestesiologistas perceberam os benefícios da mudança. “Na verdade, percebemos que novos paradigmas acontecem diariamente no cotidiano de um anestesiologista, como passar a dar atenção para o pKa de um fármaco além da imobilidade do corpo ao anestesiar”, conta Dr. Felipe.
Para o Dr. Felipe, há uma nova fronteira para anestesiologistas explorarem que passa pela melhor gestão de dados. “Parafraseando o colega Dr. Diogenes, ‘a segurança do paciente passa obrigatoriamente por um anestesiologista descansado, atualizado, valorizado e empoderado de ferramentas tecnológicas que deem excelência à gestão de seus dados’. Em Bento Gonçalves estamos orgulhosos de sermos protagonistas nessa vanguarda.”