A Necessidade de Redução na Taxa de Cancelamento Cirúrgico.

A Necessidade de Redução na Taxa de Cancelamento Cirúrgico.

A palavra cancelamento representa na atualidade muito mais do que “ato ou efeito de cancelar” como é colocada no dicionário. Em um mundo onde o tempo é extremamente importante e valioso, ter um compromisso cancelado resulta em um grande fator de stress, frustração e perda financeira. Outra palavra de grande renome é cirurgia, que sempre possuiu um significado e respeito grande no dia a dia das pessoas, muitas vezes tentando ser evitada ao máximo pelos riscos envolvidos, ao mesmo tempo em que representa a promoção de saúde.

À vista disso, imagine agora o que é para o homem moderno cheio de deveres, responsabilidades e a família ter que lidar com o cancelamento de uma cirurgia agendada, ou o encargo econômico de um hospital que terá que lidar com a mudança inesperada do fluxo de trabalho do centro cirúrgico.

Com a evolução da medicina e a inovação tecnológica batendo às portas dos hospitais todos os dias, espera-se que o cancelamento de cirurgias eletivas tenha diminuído com o tempo, correto? Alguns estudos demonstram que apesar dos avanços, o cancelamento de cirurgias eletivas ou emergenciais ainda é um dos principais problemas na gestão do centro cirúrgico com sério impacto não só econômico nas instituições, mas também na saúde das pessoas.

O cancelamento de uma cirurgia eletiva tem um efeito importante nos sistemas de saúde, no cotidiano do paciente e da equipe cirúrgica. Tal ato tem implicações psicológicas, sociais e financeiras importantes na vida do paciente e de seus familiares, pois o paciente deve se planejar referente a sua ausência no trabalho, ao cuidado com a casa e filhos e aos preparatórios para o procedimento, assim como para o período perioperatório. Em vista disso, o planejamento prévio é algo essencial para que o procedimento ocorra sem prejuízos na vida do paciente.

Um estudo recente liderado pelo Centro de Pesquisa em Serviços de Saúde do Royal College of Anaesthetists e UCL Surgical examinou os fatores associados ao cancelamento de cirurgias no dia em que estavam agendadas. A análise se deu a partir de um estudo observacional que utilizou dados de 245 hospitais da Europa durante uma semana de Março de 2017

O resultado foi de que uma a cada sete cirurgias foi cancelada no dia agendado para o procedimento, sendo que 10,1% dos cancelamentos teve como causa à insuficiência de leito hospitalar e outros 27,6% por razões clínicas. Em comparação com estudos de época anteriores, percebe-se uma diminuição na taxa de cancelamento, em contrapartida, o número de cirurgias aumentou muito nos últimos anos, graças ao avanço tecnólogico, o que coloca esses 10% com um maior impacto no número absoluto do que as taxas anteriores analisadas.

Enquanto essas instituições de países desenvolvidos evidenciam e estudam a importância da taxa de cancelamento e turnover de centro cirúrgico, o Brasil possui poucos estudos e análises referentes a esse fator no centro cirúrgico.

Um estudo brasileiro realizado em um hospital de ensino de médio porte, que presta assistência médico-hospitalar de média complexidade, identificou uma taxa de cancelamento de procedimento cirúrgico de 19,5% em um total de 1.600 cirurgias analisadas no período de janeiro a setembro de 2013.  Esse valor é quase o dobro do representado no estudo europeu, o que demanda uma atenção e melhorias urgente nesse setor.

Outro estudo realizado em um hospital público de ensino de Goiânia, apresentou taxa de cancelamento ainda maior, onde evidenciou-se ao analisar 4.423 cirurgias (eletivas e de urgência/emergência) que 21,05%  foram canceladas, sendo a maioria por razões vinculadas ao paciente e ao processo cirúrgico e não a unidade hospitalar.

Desse modo, demonstra-se que o cancelamento quase sempre está a associado a razões que podem perfeitamente ser evitadas, como exemplo o não comparecimento ou atraso do paciente, piora do estado clínico, erro na comunicação entre os serviços, problemas com recursos materiais, falta de orientação prévia ao paciente, erro de agendamento, falta de exames ou vagas em enfermaria, não realização da consulta pré-anestésica, erro no preparo clínico, entre outros.

Sendo assim, preparamos algumas orientações que as instituições podem utilizar para tentar reduzir ou amenizar os cancelamentos cirúrgicos. 

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Referências

CARVALHO, Thialla Andrade et al. Suspensão de cirurgias em um hospital universitário. Revista Sobecc, [s.l.], v. 21, n. 4, p.186-190, 20 dez. 2016. Zeppelini Editorial e Comunicacao. http://dx.doi.org/10.5327/z1414-4425201600040002.

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Santos GAAC, Bocchi SCM. Cancellation of elective surgeries in a Brazilian public hospital: reasons and estimated reduction. Rev Bras Enferm [Internet]. 2017;70(3):535-42. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0084

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