O paciente acordou lentamente, quando por fim conseguiu focar a visão, enxergou três figuras familiares aos pés da cama: o cirurgião, o anestesista e a enfermeira e notou que seus rostos mostravam preocupação. “Temos duas notícias para dar-lhe; uma lamentável e a outra boa”. Um tremor perceptível percorreu o corpo do paciente. “- A gente cometeu um pequeno erro e lhe amputou a perna saudável por engano… A boa notícia é que a perna ruim está melhorando!”
Paciente alega que teve joelho errado operado no Hospital Universitário em Juiz de Fora
“Primum non nocere” (Primeiro, não prejudicar) foi o tema da Organização Mundial da Saúde para a publicação das “Orientações da OMS para a Cirurgia Segura 2009”. Hipócrates não falava latim, nem jamais utilizou em grego um aforismo semelhante, mas a sua obra toda transmitia essa mensagem: “o médico deve ter dois objetivos, fazer o bem e evitar fazer o mal” (ἀσκέειν, περὶ τὰ νουσήματα, δύο, ὠφελέειν, ἢ μὴ βλάπτειν). Vinte e quatro séculos depois a máxima hipocrática está mais vigente do que nunca e hoje é mandatório.
No ano 2005, nos Estado Unidos, estimou-se que o erro relacionado ao local ou paciente errado, em cirurgia, acontece em cerca de 1/50.000 a 100.000 procedimentos. Da totalidade desses eventos, 76% foram realizados no local errado, 13% no paciente errado e 11% envolviam o procedimento errado. As intervenções cirúrgicas no sitio errado são mais suscetíveis de acontecer nos procedimentos associados a bilateralidade. Os fatores contribuintes de maior peso foram falhas de comunicação e problemas de liderança do time cirúrgico (estrutura hierárquica piramidal rígida e dinâmica interpessoal conflituosa).
Mas, como corrigir esse infortúnio?
Protocolo Universal
O Protocolo Universal é um processo em três passos, complementares e redundantes, para garantir a correta identificação do paciente, do local cirúrgico e do procedimento.
1- Verificação: Consiste em verificar o paciente, local e procedimento corretos em todas as etapas desde o momento da decisão de indicação cirúrgica até ao momento em que ocorre a cirurgia.
2- Marcação: O local ou locais a serem operados devem ser marcados, sobretudo no caso de existência de lateralidade. Múltiplas estruturas (por exemplo: dedos das mãos ou dos pés, costelas) e vários níveis (por exemplo coluna vertebral). A marcação deve ser realizada com tinta permanente, de forma visível e inequívoca.
(Estas duas primeiras etapas deveriam se realizar com o paciente consciente e orientado)
3- “Time Out”: Imediatamente antes da incisão da pele o cirurgião faz uma pausa para referir em voz alta o nome do paciente, a operação a ser realizada, o lado e o local da cirurgia. O enfermeiro e o anestesista devem confirmar que a informação está correcta.
No Brasil, no ano 2013, o Ministério da Saúde lançou o Protocolo de Cirurgia Segura, mas ainda hoje a sua implementação está longe de ser generalizada. Para a Anestech garantir uma maior segurança para todos os envolvidos no ato cirúrgico é uma das suas premissas fundamentais e é por isso que no app para registro digital do procedimento anestésico, o AxReg 4.0, a lateralidade aparece entre os itens de segurança a ser preenchidos pelo anestesista.
Em nossa ferramenta a lateralidade não é registrada como um dado descritivo, mas através de uma seleção digital do local cirúrgico em um desenho gráfico do corpo humano (mapa corporal), mais fácil de correlacionar com a marcação feita pelo cirurgião. Uma imagem vale mais que mil palavras, dizia Confúcio.
Por: Dr. Erick Balebona