Saúde, inovação e o desafio dos números

Saúde, inovação e o desafio dos números

Em tese, o desafio de se inovar em saúde traz além de grandes metas o propósito de gerarmos soluções mais tecnológicas, mais acessíveis, mais eficientes, mais sociais, mais ecológicas, etc.

Mas na prática, os problemas começam a ser menos teóricos e mais desafiadores. Um desses desafios, é mensurar em saúde tanto o tamanho do problema, quanto o impacto que a inovação pretende alcançar e assim paralelamente parametrizar o tamanho do mercado e de vidas salvas ou alavancadas para uma melhor qualidade com a convergência assistencial do propósito inovador.

Tanto para o empreendedor e inovador quanto para as fontes de financiamento e investimento, entendermos o tamanho do problema e o efeito da solução parecem ser tarefas básicas. Mas na realidade não é bem assim.

Em saúde, na verdade, medimos pouco e medimos mal, e estamos sempre inferindo de uma maneira ou de outra os números que balizam nossas ações tanto assistenciais como gerenciais; e como já disse Deming, o que você não mede você não sabe, e o que não sabe não gerencia.

Em um exercício que chamamos no ecossistema de inovação de “top-down”, vamos fazer uma coletânea de dados de várias referências até conseguirmos esboçar um desenho da realidade cirúrgica no Brasil.

Vamos começar pela publicação da WFSA (World Federation of Societies of Anaesthesiologists) que diz que no mundo 5 bilhões de pessoas não possuem acesso a uma cirurgia com anestesia segura, isso é simplesmente mais que 70% das pessoas do planeta em pleno século XXI. Estima-se que globalmente existam 70 mil salas de cirurgia sem oximetria de pulso e isso colabora para que haja uma morte a cada 133 anestesias realizadas.

Por ano, são realizadas cerca de 250 milhões de cirurgias de grande porte mundialmente e estima-se que só no Brasil, incluindo SADT, sejam realizados 30 milhões de procedimentos anestésicos, e o país possui 116.083 leitos hospitalares cirúrgicos. Só nos 122 hospitais da ANAHP (Associação Nacional de Hospitais Privados), segundo o relatório Observatório, são realizadas mais duzentas cirurgias por hora. No Sistema Único de Saúde brasileiro foram realizadas 2,4 milhões de cirurgias em 2018 e a fila por cirurgias chega a um milhão de pessoas em 2020.

Metade dos eventos adversos ocorridos em um hospital têm origem no centro cirúrgico, e 80% deles são devido a falhas humanas. Entre 3 a 25% dos procedimentos de grande porte apresentarão complicações e no geral esses eventos custam 5 bilhões de reais por ano ao país, equivalendo a 33% do custo geral de saúde.

Os eventos adversos chegam a ocorrer mil vezes mais frequentemente na Recuperação Pós-anestésica do que na sala de cirurgia e aumentam a mortalidade de pacientes em 333%; sendo essa a terceira causa de morte mais comum no mundo e podem aumentar o tempo de internação hospitalar de 9 a 14 dias.

Em uma instituição hospitalar, também segundo a ANAHP, 55% dos pacientes internados são cirúrgicos e a média de cirurgia por paciente no Brasil chega a 1,52. Uma publicação da Anesthesiology de 1991 estimou o custo-minuto de uma sala cirúrgica entre 10 e 30 dólares, e que 40% do orçamento hospitalar é consumido no centro cirúrgico. Só no Brasil, uma pesquisa realizada entre anestesiologistas, concluiu que 91% dos profissionais já erraram na administração de fármacos no perioperatório pelo menos uma vez.

Seis a cada dez mortes ocorridas na mesa de cirurgia são de causa evitáveis e segundo um litígio recente nos EUA que condenou uma indústria farmacêutica à indenizações, uma vida custa 7 milhões de dólares.

A ONU declarou em 2004 (há 16 anos atrás) que para impactarmos a saúde globalmente precisamos realizar cirurgias mais seguras, e os indicadores que mal são coletados e analisados ainda não mostraram sinais de melhorias.

E então? Qual o tamanho do problema? Qual o tamanho do mercado? Qual o tamanho do desafio do empreendedor de inovação em saúde?

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