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Anestech / 14.02.2020

Entre os diversos setores e unidades assistenciais, o centro cirúrgico se destaca em uma instituição hospitalar, por conta das variadas funções do profissional da saúde associadas à experiência cirúrgica durante todo o período perioperatório. Para melhorias e seguridade do paciente, é fundamental a implementação de fluxogramas e indicadores baseados em evidências científicas. Neste sentido, a assistência em saúde alia-se ao movimento global pela melhoria de segurança do paciente e da qualidade da assistência à saúde. (BRASIL, 2013a).

Um dos elementos que pode revelar as complicações e agravos cirúrgicos é o indicador, que diariamente tem sido utilizado como medida de segurança hospitalar. E para se ter uma monitorização e controle, a prática cirúrgica deve ser monitorada através de registros digitais para à assistência com abrangência nacional e internacional, que retratam a qualidade perioperatória.

Além disso, a construção destes indicadores para a avaliação dos serviços de saúde, estabelece a explicitação de referenciais de apoio sob o olhar dos diferentes elementos indispensáveis das estruturas institucionais, dos processos de trabalho e dos resultados à saúde prestada dos quais são resgatados e analisados, através dos dados e entrega de valor
(BORK, 2003; LIMA; KURGANCT, 2009).​

Atualmente estes indicadores, aliados a outros, como a infecção do sítio cirúrgico permitem identificar as taxas de Infecção Hospitalar (IH). De acordo com a Portaria Ministério da Saúde (MS) 2616/98 a IH é definida como aquela adquirida após a admissão do paciente na instituição de saúde, manifestada durante este período ou pós-alta, quando relacionada a internação ou procedimentos hospitalares em um período de 48 horas após a alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), 30 dias após cirurgias sem próteses e até um ano para cirurgias com próteses (BRASIL, 1998). 

De todas as infecções, as Infecções do Sítio Cirúrgico (ISC) apresentam maior incidência e representam uma das causas mais prevalentes das infecções hospitalares entre os pacientes cirúrgicos. E para isso, foi desenvolvido um estudo em um Hospital Universitário da região Sul do Brasil sobre fatores de risco relacionados ao surgimento de ISC com revelações significativas para a prática cirúrgica. A coleta de dados ocorreu entre fevereiro e junho de 2015, sendo que os 90 pacientes da amostra foram acompanhados durante todo o período perioperatório até o sétimo dia de pós-operatório domiciliar.

Os dados gerados foram tabulados em planilhas individuais no aplicativo eletrônico Microsoft Excel® 2010, exportados e armazenados no pacote estatístico SPSS - Statistical Package for Social Sciences® (versão 22.0).

Todas as variáveis foram analisadas descritivamente por meio de frequência simples e porcentagens (variáveis categóricas) e medidas de posição e dispersão (variáveis numéricas).   Para associação entre variáveis categóricas utilizou-se o teste de Qui-Quadrado (χ2) ou Exato de Fisher, quando necessário. A comparação entre dois grupos, com variáveis numéricas foi realizada através do teste t para amostras independentes ou teste de Mann-Whitney, conforme a distribuição dos dados. Para verificar a distribuição dos dados (normalidade) foi realizado o teste de Kolmogorov- Smirnov. Para isso, vamos apresentá-los em forma de tabelas para identificarmos o perfil e características dos pacientes susceptíveis a ISC.

Por medidas de proteção dos dados e comitê de ética, os dados gerados se mantém em conteúdo reservado.

Batista e Rodrigues (2012) apresentaram que de 12% a 84% das ISC são diagnosticadas no período pós-alta, bem como por Oliveira e Ciosak (2007) que identificaram 25% de ISC em ambiente hospitalar e 75% em domicílio.

Com base nestes resultados, identificamos alguns fatores significativos para o surgimento de ISC. O critério de morar sozinho, com nível de significância considerável, pode ter sido um fator de risco, ainda que a pessoa que não possui familiar ou acompanhante no seu contexto domiciliar, fica vulnerável aos cuidados pós-operatórios, aumentando assim a probabilidade para a ocorrência de ISC;

O uso de cateter venoso periférico foi considerado um fator de proteção no desenvolvimento da ISC, por ser uma via de escolha para a antibioticoterapia profilática. Estudos indicam que o uso de antibióticos profiláticos, no período pré-operatório, diminui a incidência de ISC (MELO et al., 2013; LENZA et al., 2013).

Também foi possível comprovar as associações dos fatores de risco do período perioperatório com o surgimento das ISC, nos pacientes submetidos a cirurgias potencialmente contaminadas. Os dados mostraram que as taxas de infecção foram baixas, sendo a maior incidência registrada durante o período pós-operatório domiciliar.

Estes dados contribuem para o entendimento dos riscos e chances aos quais os pacientes cirúrgicos estão envolvidos, desde a sua internação, até a sua recuperação domiciliar. Assim, estes resultados direcionam a manter o caminho para discussão e para o desenvolvimento de pesquisas que permitam a geração de dados reais de ISC, servindo de base para mudanças no cenário da prática profissional em benefício aos pacientes em sua recuperação e tratamento pós-operatório, como também para a gestão hospitalar com a redução de custos provenientes das infecções.

Para isso, propõe-se que haja um programa de monitoramento com uma rastreabilidade e controle dos dados dos pacientes cirúrgicos, durante a recuperação operatória seja ela hospitalar ou domiciliar. Para isso, cabe a gestão investir em plataformas digitais, softwares e ferramentas que permitem este acompanhamento, permeando a prática e segurança do paciente.

Referências:

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Sítio Cirúrgico. Critérios Nacionais de Infecções relacionadas à assistência à saúde. 2009. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/manuais/criterios_nacionais_ISC.pdf

AGUIAR, A. P. L.; et al. Fatores associados à infecção de sítio   cirúrgico em um hospital na Amazônia ocidental brasileira. Rev. SOBECC., v. 17, n. 3, pp. 60-70, 2012.. 

AVILA, C. E. F.; et al. Relato de caso: Infecção de sítio cirúrgico após cirurgia de Whipple. Com. Ciências Saúde. v. 20, n. 3, pp. 253-60, 2010. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/artigos/relato_caso_infeccao_sitio.pdf

BATISTA, T. F.; RODRIGUES, M. C. S. Vigilância de infecção de sítio cirúrgico pós-alta hospitalar em hospital de ensino do Distrito Federal, Brasil: estudo descritivo retrospectivo no período 2005-2010. Epidemiol. Serv. Saude., v. 21, n. 2, pp. 253-64, 2012. Disponível em: http://scielo.iec.pa.gov.br/pdf/ess/v21n2/v21n2a08.pdf BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 529, de 01 de abril de 2013. Brasília (DF): Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 01 de abril de 2013. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0529_01_04_2013.html BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Brasília (DF), 12 de dezembro de 2012. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf

CARNEIRO, G. G. B.; et al. Análise bacterioscópica e microbiológica intraoperatória de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico de escoliose idiopática do adolescente. Coluna/Columna.; v.12, n.1, pp. 42-4, 2013. 

CRIADO, P. R.; et al. Histamina, receptores de histamina e anti-histamínicos: novos conceitos. An Bras Dermatol., v. 85, n. 2, pp. 195-210, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abd/v85n2/10.pdf

CUNHA, E. R.; et al. Eficácia de três métodos de degermação das mãos utilizando gluconato de clorexidina degermante (GCH 2%). Rev Esc Enferm USP. 2011., v. 45, n.6, pp.1440-45.

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