
Nos últimos anos, a sustentabilidade tem sido um dos maiores desafios, especialmente no setor de saúde. A anestesiologia, por ser uma prática essencial, acaba contribuindo significativamente para a pegada de carbono dos hospitais e sistemas de saúde. Segundo o Jornal Europeu de Anestesiologia, o setor de saúde é responsável por 4,7% das emissões de gases de efeito estufa na Europa, sendo o terceiro maior contribuinte global, logo atrás dos EUA e China.
Reconhecendo essa urgência, a Sociedade Europeia de Anestesiologia e Cuidados Intensivos (ESAIC) criou, em 2023, a Declaração de Glasgow sobre Sustentabilidade Ambiental, com diretrizes práticas para reduzir o impacto ambiental da anestesiologia sem comprometer a segurança dos pacientes. Neste artigo, vamos explorar essas quatro áreas de ação: emissões diretas, otimização do uso de energia, gestão de resíduos e o bem-estar dos profissionais de saúde. Vamos ver como você pode aplicar isso no seu dia a dia!
Minimizar as Emissões Diretas (Scope 1)
Os gases anestésicos, como sevoflurano, desflurano e isoflurano, são fundamentais no nosso trabalho, mas têm um impacto ambiental considerável. O desflurano, por exemplo, é 25 vezes mais prejudicial ao meio ambiente que o sevoflurano. Embora representem uma pequena fração das emissões globais de gases de efeito estufa (0,02 a 0,1%), esses agentes podem ser responsáveis por até 50% das emissões de CO2 nas áreas perioperatórias de hospitais de alta renda.
A boa notícia é que podemos fazer escolhas mais sustentáveis. Priorizar anestésicos com menor impacto ambiental, como o sevoflurano, e utilizar fluxos de gás fresco mais baixos (menos de 0,5 L/min) são passos simples e eficazes. Outra solução é investir em tecnologias de captura de vapor, como os dispositivos de carvão ativado, que capturam parte dos gases antes que sejam liberados. E sempre que possível, considere a anestesia intravenosa total (TIVA), que tem um impacto climático menor do que os anestésicos voláteis.
Otimização do Uso de Energia (Scope 2)
O consumo de energia é um grande vilão nos hospitais, especialmente nas salas de operação, onde os sistemas de ventilação e controle de temperatura (HVAC) podem representar até 90% do consumo energético. Mas existem maneiras de otimizar esse uso e reduzir o desperdício.
Por exemplo, ajustar o sistema HVAC durante períodos de inatividade, diminuindo as trocas de ar quando a sala não está em uso, pode gerar uma economia significativa. O uso de sensores de movimento para ativar/desativar o HVAC e a iluminação também é uma maneira simples de otimizar o consumo de energia. Além disso, investir em energias renováveis, como solar ou eólica, ajuda a reduzir a pegada de carbono das instalações hospitalares.
O investimento em tecnologias sustentáveis de gerenciamento de processos também reduz gastos com energia e diminui a pegada de carbono, como é o caso do AxReg. O uso do computador, por exemplo, é 49 vezes mais caro do que o uso de um iPad por dia, tornando os dispositivos móveis uma solução mais econômica e sustentável. Além disso, a ficha anestésica digital do AxReg tem sua pegada de carbono compensada por procedimento, contribuindo diretamente para práticas mais ecológicas e eficientes nos centros cirúrgicos.
Gerenciamento de Resíduos e Cadeia de Suprimentos (Scope 3)
A gestão de resíduos hospitalares é outro desafio. 65% das emissões de gases de efeito estufa no setor de saúde estão ligadas à cadeia de suprimentos e ao descarte de resíduos. A maioria dos resíduos hospitalares (75% a 90%) poderia ser reciclada, mas muitas vezes não o é, devido à falta de segregação adequada.
Aqui, a regra das 5R pode ajudar: Recusar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Reparar. Isso inclui minimizar o uso de produtos descartáveis e promover o uso de materiais reutilizáveis, desde que em conformidade com as normas de segurança. Além disso, protocolos mais rigorosos podem ajudar a reduzir o desperdício de materiais e medicamentos. Sabia que 50% dos medicamentos preparados para emergências não são usados? Implementar controles mais rígidos evita o desperdício.
Separar corretamente os resíduos também é essencial para facilitar a reciclagem e reduzir a necessidade de envio para aterros, que consomem muita energia.
Bem-estar e Autocuidado dos Profissionais de Saúde (Scope 4)
A sustentabilidade não se limita ao meio ambiente. Cuidar do bem-estar dos profissionais de saúde também é crucial. Sabemos que longas jornadas e a privação de sono afetam a saúde física e mental dos anestesiologistas. 71% dos anestesiologistas relataram que a falta de sono afeta seu desempenho, enquanto 74% acreditam que a fadiga aumenta os riscos para os pacientes.
Para lidar com isso, as instituições precisam oferecer melhores condições de descanso, como áreas adequadas para repouso durante os turnos noturnos, e suporte psicológico. Garantir uma alimentação saudável e nutritiva durante os turnos também faz uma enorme diferença no bem-estar. Ao criar um ambiente de trabalho mais saudável, você reduz o absenteísmo e melhora a segurança dos pacientes.
Conclusão
As mudanças climáticas são um desafio global, e a anestesiologia tem um papel fundamental na redução do impacto ambiental. Implementar as diretrizes da Sociedade Europeia de Anestesiologia e Cuidados Intensivos (ESAIC) é um passo essencial para criar uma prática mais sustentável. Pequenas mudanças no dia a dia, como escolher anestésicos com menor potencial de aquecimento global e otimizar o uso de energia, podem fazer uma grande diferença.
Ao promover um ambiente de trabalho mais saudável para os profissionais e adotar práticas de gestão de resíduos mais eficazes, estamos criando uma anestesiologia mais responsável, tanto para os pacientes quanto para o planeta.