Há tempos a Anestech vem falando da importância da digitalização do prontuário anestésico para através do processamento massivo de dados (Big Data), Analítica de Dados e Machine Learning, isso em combinação com farmaco-genômica, poder chegar à caracterização individualizada e ao manejamento perianestésico personalizado de cada paciente. Mas que significa na prática fármaco-genômica? Não serão só palavras vazias?
Fármaco-genômica é o ramo (ainda incipiente) da genética que estuda como os genótipos pessoais afetam e modulam as diversas respostas do organismo aos agentes farmacológicos. Toda resposta orgânica à drogas é mediada por complexos enzimáticos dos quais existe enorme variabilidade – ou polimorfismo genético – entre populações, etnias, grupos familiares e indivíduos.
Cada ser humano tem um arranjo genético único e responde aos agentes farmacológicos de maneira diferenciada. Até agora temos aplicado protocolos de anestesia baseados em estatísticas das respostas mais comuns, sempre com margem para peculiaridades idiossincráticas que nunca faltam; mas se tivéssemos a possibilidade de prever e evitar eventos adversos, continuaríamos trabalhando por ensaio e erro, ou com precisão milimétrica?
Embora em fase inicial, já prevê-se a inserção do perfil fármaco-genômico nas etapas iniciais (pré admissão) da implementação dos protocolos de ERAS e de Alta Precoce.
Os grupos de drogas dos quais temos maiores evidências de relacionamento entre as suas concentrações, meia-vida, interações, excreção, etc. com polimorfismo genético, são os opióides, analgésicos não opióides, benzodiazepínicos, antieméticos, anticoagulantes, betabloqueantes, relaxantes musculares e anestésicos locais.
Os complexos enzimáticos envolvidos com maior frequência no metabolismo destas drogas seriam as famílias da Cytochrome P (CYP), μ Receptors (OPRM1), Catechol-O-methyltrans-ferases (COMT), UDP-glucuronosyltransferases (UGT), ATP binding cassette (ABC), Organic cation transporter 1 (OCT1), Potassium voltage-gated channel subfamily H member 2 (KCNH2), Vitamin K epoxide reductase complex (VKORC1), Carboxyl Esterase 1 (CES1), etc. Existem dúzias de variações, com ações muitas vezes opostas e contraditórias, difíceis de lembrar para os clínicos em geral.
E ai? Será que o anestesiologista terá que memorizar essas galimatias bioquîmicas também?
Não vai precisar. No escopo dos pesquisadores está não atrapalhar o fluxo de trabalho dos profissionais na assistência, mas agregar valor ao mesmo. O prontuário digital de anestesia certamente será a ferramenta que processará os dados do perfil fármaco-genômico do paciente e alertará o profissional dos riscos potenciais e das melhores combinações farmacológicas para cada caso.
Quer saber mais sobre as principais eventualidades relacionadas a fármacos de uso comum em anestesia? É só fazer o download abaixo.
Referências:
Gabriel RA, Burton BN, Urman RD, Waterman RS. Genomics Testing and Personalized Medicine in the Preoperative Setting. Anesthesiol Clin. 2018 Dec;36:639-652.