O Centro Cirúrgico (CC) é o lugar no qual o anestesista mais corre riscos em relação à saúde, tais como toxicidade de gases anestésicos, exposição ocupacional a sangue e secreções (risco de doenças infecciosas), alergia ao látex e exposição às radiações ionizantes. No entanto, apesar dos riscos profissionais na anestesiologia, é nesse mesmo local que a atividade do profissional se faz presente, na maior parte do tempo, durante a jornada de trabalho.
Ainda que muitos ambientes distintos se organizem, esse trabalho não deixa de oferecer ameaças a saúde física e mental do profissional. E os perigos ocupacionais são tão diversos, que é necessário separá-los em cinco grupos, de acordo com a natureza de cada um. São eles: os riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e também o risco de acidentes.
Neste artigo vamos conhecer os riscos profissionais na anestesiologia e ver algumas formas de preveni-los. Continue lendo!
Os riscos físicos
Neste primeiro grupo, há uma enorme fatia do número de doenças ocupacionais oriundas do CC, sobre quem cumpre a função da anestesia, como hipertensão arterial sistêmica, fadiga visual, surdez, neoplasias, estresse, entre outras.
Pela legislação, o local de trabalho desse profissional não pode superar ruídos intensos maiores de 85 decibéis (dB), por mais de oito horas contínuas e sem uso de qualquer modelo de protetor auditivo. Contudo, há relatos que ultrapassam 100 dB no CC, que envolve desde som do ar-condicionado até queda de equipamentos cirúrgicos.
Sendo assim, como o ruído possui intervalos, então, não há obrigatoriedade constante de protetor auditivo, pois a conscientização para diminuir ruídos no centro cirúrgico já contribuiria para o bem estar dos profissionais. E assim, evitar erros no momento do procedimento anestésico.
Caso o incômodo siga, as patologias que podem surgir são: estresse, transtornos respiratórios, comportamentais, com características do distúrbio do sono – o que também afeta os sistemas endocrinológico e neurológico.
A chance de contrair tumores também é real e se encaixa como um risco físico
Devido a evolução da tecnologia, surgiram técnicas cirúrgicas como endoscopia e radiologia intervencionista, nas quais foram registradas uma alta na exposição à radiação ionizante. Essa ação estimula nos tecidos atingidos destruição celular, como chances de alterações cromossômicas e tumores malignos. Essa exposição é cumulativa sendo necessário a medição através de dosímetro.
Vale destacar que não há registros de uma dose segura “de exposição” abaixo da qual a indução de neoplasias não venha ocorrer, já que há mutações na dupla-hélice do DNA celular, que podem ser pontos de mutação, translocações cromossômicas e fusões de genes. Todas ligadas ao surgimento desse tipo de tumor.
Em razão disso, é obrigatório que haja proteção radiológica, junto às atividades educativas a respeito dos riscos relacionados à radiação. Principalmente elucidando sobre o uso de barreiras, como aventais de chumbo para proteção gonadal, óculos com lentes protetoras para retina e colares cervicais como proteção da tireoide.
O indicado é que se tenha uma distância mínima de 90 cm da fonte de radiação ionizante, pois isso viabiliza uma redução completa da exposição à radiação primária.
É preciso enfatizar que a radiação ionizante é oriunda de raios X e por isótopos radioativos, que liberam raios gama ou partículas α e β. Diferentemente do ionizante, que tem como característica o raio laser, a qual pode causar alterações advindas do calor produzido.
Sendo assim, não se pode esquecer que a temperatura do ambiente de trabalho é outro risco físico que promove acidentes relacionados a temperaturas, tanto baixas como altas, o que pode prejudicar a concentração do anestesiologista e dificultar o cuidado com paciente.
Os riscos químicos
No centro cirúrgico, além dos ruídos, há também a presença de resíduos de gases e vapores anestésicos, que se relacionam , também, aos riscos profissionais na anestesiologia.
Esses anestésicos elevam a poluição e são relacionados com doenças ocupacionais, entretanto, investigações dos efeitos ainda não apresentam conclusões. Já a exposição crônica contribui para desenvolver hepatite, fadiga, irritabilidade, sonolência e náusea.
Essa contaminação está ligada a fatores como: falha ao desligar as válvulas de controle de fluxo dos resíduos de anestésicos inalatórios, máscaras mal adaptadas, escape no circuito de baixa pressão, reservatório dos absorvedores de CO2, dos anéis de vedação e das mangueiras, entre outros.
Pesquisas recentes não destacaram riscos ocupacionais à exposição de resíduos de anestésicos inalatórios. Para isso, foram avaliados efeitos genotóxicos, neurocomportamentais e imunológicos. Outros estudos indicaram um risco potencial à saúde dos anestesiologistas, porém, os dados ignoraram a atual tecnologia presente nestes sistemas de exaustão e de regulação ambiental de resíduos de anestésicos inalatórios.
Em amostras sanguíneas de anestesistas, expostas por um tempo considerável aos anestésicos inalatórios, foram encontradas ocorrências antioxidantes plasmáticas e eritrocitárias. O que pode gerar estresse oxidativo nas pessoas que trabalham no CC.
As recomendações sobre os limites ambientais para concentrações de anestésicos inalatórios são relacionados em partes por milhão (ppm). Sendo que, o limite superior de óxido nitroso (N2O) é 25 ppm. De halogenados é 2 ppm e, quando em associação com o N2O, é reduzido para 0,5 ppm.
A utilização de eletrocautério e radiação não ionizante, expelem na atmosfera uma fumaça de resíduos biológicos, como partículas infecciosas de DNA virais, com significativo potencial patogênico.
Como recomendação, o manuseio de fármacos como os antibióticos devem ser realizados com luvas, para que seja diminuída a chance de resistência bacteriana por meio do contato com microdoses pela pele e pelas mucosas.
Os riscos biológicos
Se tratando dos riscos biológicos, a utilização das luvas também impede que o anestesiologista fique exposto à transmissão de infecções, enquanto ocorre o contato com o paciente. No centro cirúrgico, as doenças com risco de transmissão podem ser desde a hepatites B e C, o herpesvírus ou até mesmo o vírus HIV.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), deve-se adotar precauções contra a contaminação de agentes infectantes, como por exemplo, lavar as mãos após retirar as luvas; usar máscaras; óculos; aventais e botas; não reinserir agulhas em suas capas, o correto é colocá-las em recipientes adequados após o uso.
E ainda, a reesterilização do equipamento de anestesia com solução de hipoclorito de sódio a 2% em água, além de evitar ressuscitação boca-boca, o ideal é utilizar AMBU para essa função, e também transportar todo o material com sangue em recipiente adequado.
Em relação ao risco de contaminação pelo HIV, é recomendado o teste rápido para o vírus e o uso de quimioprofilaxia. Esse último com zidovudina associado à lamivudina, nelfinavir ou indinavir.
É importante que, sempre ocorram programas educacionais de prevenção à acidentes e treinamento de controle de infecções hospitalares.
No Brasil foi publicada a NR-32 (Norma Regulamentadora 32), que implementa medidas de proteção à segurança e à saúde dos profissionais da área e promove formas preventivas, com o objetivo de buscar condições seguras e favoráveis no ambiente de trabalho. O que, consequentemente, também estimula o bem-estar.
Os riscos ergonômicos
No CC é indispensável que o aparelho de anestesia, a mesa cirúrgica e os monitores estejam de acordo com a altura do anestesiologista. Caso contrário, é recomendado o ajuste, já que constantes alterações na postura durante procedimentos são responsáveis por sintomas de doenças, como hérnias de disco lombares, e contraturas musculares.
Essas patologias, podem, ainda, levar o profissional ao afastamento do trabalho. Por isso, a regulagem dos aparelhos utilizados é de suma importância para a diminuição de riscos de acidentes e de doenças ocupacionais.
Riscos de acidentes
Com o avanço da tecnologia, no centro cirúrgico se tornou cada vez mais comum a utilização de aparelhos elétricos, mas, também, aumenta o risco de acidentes com eletricidade. Layouts desproporcionais possibilitam choques elétricos, que acabam em fatalidades para todos dentro da sala de cirurgia.
Diante disso, é indicado evitar extensões e benjamins, o que minimiza acidentes.
Para prevenção desse tipo de fatalidade, o aterramento do CC deve ser adequado para o número de aparelhos que serão utilizados ao mesmo tempo. O uso desses objetos gera um campo de baixa frequência eletromagnética.
Além disso, mesmo que tenha sido diminuído o risco de incêndio pelo não uso de anestésicos inflamáveis, ainda existe esse perigo nos dias atuais pelo uso de material comburente. Em alguns casos é possível ler relatos de incêndios associados ao laser com oxigênio, eletrocautério com gases intestinais ou com gazes e compressas.
Transtornos mentais também são riscos profissionais na anestesiologia.
Como você pôde conferir ao longo deste artigo, a anestesiologia é uma especialidade que convive com o risco de desenvolver doenças ocupacionais. As características descritas para que isso seja potencializado – como jornadas de trabalho extensas ou centro cirúrgico indevidamente organizado – associam-se também às doenças psiquiátricas. Tendo como consequência, o abuso de drogas e álcool e até mesmo suicídios, cada vez mais frequentes entre os profissionais.
Denominada como burnout, em 1974, o termo inglês, traduzido para o português, atrela-se ao seu significado: esgotamento, sentimento de depressão, fadiga e falta de energia. Todos causados por jornadas de trabalho extenuantes.
Outras características da síndrome de burnout (SB) são: exaustão emocional; despersonalização; diminuição da realização pessoal.
Ou seja, a pessoa diagnosticada com esse transtorno não consegue se sentir bem, nem quando seus planos dão certo.
Além disso, a síndrome de burnout também contém sintomas físicos que incluem cefaleia, alterações gastrointestinais e insônia.
Tendo como consequência a frustração, desmotivação, dependência de drogas e depressão.
E, como já foi constatado, a SB não afeta apenas o anestesiologista, mas também reflete nas laços familiares, no contato com outras pessoas no ambiente de trabalho, o que resulta também no aumento do absenteísmo – hábito de se ausentar com frequência, de não comparecer aos locais que estava acostumado a ir. Veja aqui sobre a saúde mental dos anestesistas.
A síndrome de burnout no amiente hospitalar
A SB é diagnosticada em um a cada três médicos no mundo, sendo um terço deles atingido de forma moderada e um décimo de maneira severa. Aproximadamente, entre 40% a 50% dos médicos que trabalham com medicina de emergência e infectologia e 56% dos cancerologistas são acometidos pela SB.
A Joint Commission identifica a fadiga como um fator inerente à ocorrência de redução da produtividade, aumento do risco de acidentes e diminuição da qualidade de vida para os profissionais de saúde.
E toda a responsabilidade ligada à anestesiologia faz com que essa especialidade seja uma das que mais sofre com SB. O que pode criar um estresse, como já foi dito aqui, mas que também pode refletir de várias maneiras.
A síndrome de burnout no anestesiologista
A anestesiologia é uma especialidade médica marcada por diversos fatores estressantes. E por conta disso, muitos profissionais do ramo são afetados pela síndrome de burnout.
Longas jornadas de trabalho, atendimentos de emergência, manejo da dor aguda e crônica e pouco tempo para descanso fazem parte da realidade vivenciada por anestesiologistas. Que são constantemente expostos ao estresse laboral, situação preocupante no cotidiano desses profissionais. Essa vivência resulta em um sentimento de ansiedade, nervosismo e uma depressão profunda, que precisa de acompanhamento constante.
Portanto, a síndrome de burnout é considerada também como parte dos riscos profissionais na anestesiologia. Veja algumas maneiras pela qual ela se manifesta:
- Alterações de humor;
- Cansaço mental e físico excessivo;
- Insônia;
- Isolamento ou irritabilidade;
- Negatividade constante;
- Baixa autoestima.
Quando é identificado algum desses sintomas, é necessário buscar ajuda profissional e cuidar da saúde mental.
Neste artigo você viu os diversos riscos profissionais na anestesiologia. Portanto, é preciso ter em mente que estes profissionais salvam vidas, mas para que isso aconteça de maneira segura e saudável, eles também precisam de cuidados especiais.
Veja aqui algumas dicas para focar na saúde mental. Saiba também como melhorar a gestão do centro cirúrgico com o auxílio da tecnologia.