Apesar da pouca discussão sobre o tema, a saúde mental dos anestesistas requer atenção e cuidado, já que esta é uma das especialidades médicas mais extenuantes e cansativas. No geral, a profissão está relacionada a grandes volumes de trabalho, plantões extensos, pouco descanso, autocobrança excessiva e um alto nível de exigência na sua atuação.
Mesmo com a presença de outros profissionais na sala, são raros os casos em que se tenha outro anestesista e isso pode aumentar o senso de responsabilidade que recai sobre estes profissionais.
Com isso, as possibilidades de intercorrência e o caráter de urgência dentro de um bloco cirúrgico colocam estes profissionais em níveis de estresse consideráveis.
Mas, devido a isso e a tanta cobrança pessoal e profissional, como evitar que a saúde mental dos anestesistas fique ainda mais prejudicada?
A saúde mental dos anestesistas e seu passado obscuro
Curiosamente, a preocupação com a saúde mental dos profissionais da assistência anestésica não é recente. Aliás, é algo que está concomitantemente relacionado a sua origem.
Depois de sofrer uma derrocada na carreira devido a falhas na apresentação de seus estudos de anestésicos, o pai da anestesiologia, Horace Wells, viciou-se em clorofórmio.
Aos 33 anos, após ser preso por atentar contra duas mulheres, cometeu suicídio na cela da prisão, inalando a mesma substância para não sentir dor ao cortar sua própria artéria femoral.
A preocupação com a saúde mental desses profissionais
Assim como Wells, muitos anestesistas enfrentam sérias questões relacionadas ao seu bem-estar físico e mental, e este é um assunto que precisa de mais atenção.
Drogadição e transtornos mentais
Além dos transtornos mentais como a Síndrome de Burnout, gerada pela sobrecarga no trabalho, privação do sono e estresse excessivo, existem outras preocupações com a saúde mental dos anestesistas.
Por terem fácil acesso a anestésicos e opiáceos, muitos desses profissionais começam a desenvolver dependência química pelo uso destes medicamentos como válvula de escape para a rotina do dia a dia.
Utilizados para o controle da dor, os opiáceos provocam a sensação de euforia e bem-estar, além de terem grande potencial aditivo.
Porém, como algumas dessas drogas causam tolerância, a chance de um anestesista desenvolver dependência química é grande, porque a tendência é aumentar as doses com o passar do tempo.
Problema mais grave: suicídio entre a categoria
Neste sentido, todos estes fatores podem contribuir para uma preocupação muito maior que, como já vimos, está relacionada à sua existência: o suicídio de anestesistas.
São cerca de 800 mil mortes por suicídio no mundo, anualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo menos 160 milhões de pessoas já pensaram em cometê-lo. No Brasil, a média é de 12 mil casos por ano.
Entre a classe médica, há alguns fatores que evidenciam uma maior chance de suicídio entre os anestesistas, como o fácil acesso à medicamentos com potencial letal e o conhecimento necessário para a administração dos mesmos.
De acordo com informações da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), de 2001 a 2015, 86% dos suicídios entre anestesistas foram por envenenamento, sendo 83% com fármacos anestésicos.
Outros fatores que impactam a saúde mental dos anestesistas são:
- Plantões que alteram o ciclo sono-vigília
- Histórico de depressão
- Falha na comunicação entre a equipe
- Problemas relacionados ao padrão organizacional do trabalho
- Eventos adversos na vida como problemas de relacionamento e financeiros
- Demanda física e emocional alta
- Efeitos do envelhecimento
- Provas e personalidade perfeccionista
- Exigência nos registros de dados
- Relutância em buscar ajuda médica
13 medidas para melhorar a saúde mental dos anestesistas
Em um dos simpósios sobre saúde ocupacional da SBA, foram apresentadas 13 medidas que podem ser adotadas pelo anestesista para controlar a ansiedade e o estresse, melhorando a saúde mental.
1 – Praticar atividade física regular;
2 – Trabalhar e estudar em horários adequados;
3 – Ler;
4 – Telefonar e encontrar amigos, mesmo que pelos meios digitais;
5 – Evitar pensamentos negativos, principalmente o excesso de informação sobre a pandemia que contribuem com o aumento da ansiedade;
6 – Procure orientação especializada e segura;
7 – Tenha um horário de sono adequado;
8 – Aprecie a companhia de quem mora com você;
9 – Evite desentendimento;
10 – Tenha momentos de reflexão, meditação e descanso;
11 – Alimente-se de forma adequada;
12 – Evite exageros em álcool;
13 – Em caso de sofrimento emocional, procure ajuda especializada em serviços de psiquiatria e psicologia.
Todavia, também acrescentamos a necessidade de buscar apoio da família e amigos, para garantir a procura por tratamento adequado o quanto antes.
Como a gestão hospitalar pode contribuir?
Assim como citamos anteriormente, o debate sobre o tema não é algo recente, o que levanta uma questão importante: se a preocupação com a saúde mental dos anestesistas teve início na origem da especialidade, por que o assunto ainda não é tratado e enfrentado da maneira como deveria?
Apesar da cobrança pela excelência profissional dos anestesistas começar ainda na residência, a nova geração destes profissionais já entende a importância do cuidado com a saúde mental.
Por isso, a gestão hospitalar precisa promover debates sobre o assunto e criar meios para que os anestesistas não se sintam obrigados a manifestar esse preciosismo pela excelência.
Ao mesmo tempo em que é preciso tomar ações práticas para evitar danos mais severos, o uso de ferramentas tecnológicas tem se tornado um aliado na assistência anestésica. Dessa forma, gerando impacto no trabalho do profissional e na saúde mental dos anestesistas.
Hoje em dia já existem inúmeras soluções que podem auxiliar os profissionais, como as ferramentas de gestão do centro cirúrgico.
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